quinta-feira, setembro 28, 2006

Consultas é... Caixa (not)

O som do despertador quando ainda nem as galinhas acordaram. Olhar pela janela e ver as nuvens a acumularem-se sobre a cidade. Chegar ao local e já haverem pessoas à espera. Levar um livro para não ter que meter conversa e meia hora depois já saber a vida condensada do Pedro Miguel, contada pela sua mãezinha que gosta muito dele, apesar da sua vida dura. As pálpebras quase a fecharem-se, enquanto tenho quatro ou cinco pessoas à minha volta a falarem pelos cotovelos, sendo que uma delas conhece-me desde sempre e não percebe porque é que ainda não me casei. O sol a nascer por detrás dos prédios enquanto começam a cair as primeiras gotas de chuva. As pernas cansadas de estar em pé há quase duas horas. A falta urgente de cafeína a circular pelo meu organismo e o hesitar em cravar um cigarro a alguém. Duas ou três frases ditas pela única pessoa com três palmos de testa presente, mas que infelizmente está vestido como se fosse ao centro comercial, leia-se de fato de treino versão berrante. A abertura das portas e um início de motim só porque alguém não segurou a porta para alguém. O ar entediado e quase odioso da senhora por trás do balcão. E o que é que fica? "O Dr. Alberto está a aceitar quatro consultas hoje." Fixe, ainda bem que eu era o quinto...

quarta-feira, setembro 27, 2006

Segunda breve da noite

Suprema ironia desportiva: será que o jogador Mateus também vai pedir a rescisão do contrato e ainda se transfere para o Belenenses? Será que o Fiuza arranca o resto dos cabelos que ainda possui? A emissão segue dentro de momentos...

Primeira breve da noite

Será desta que a minha chafarica vai ser vendida?
Querem ver que ainda vou acabar por ter patrões norte-americanos? Cruzes credo...

A minha cidade é um estaleiro

Ou uma pseudo-reportagem fotográfica das obras decorrente do Programa Polis no Cacém, tiradas em meados do mês de Agosto de 2006, indo assim ao encontro das preocupações de vários habitantes desta terra, incluíndo o meu bom amigo Suburbano. Tenho de admitir que, até ver, as obras a mim pouco me afectam, tirando as habituais confusões para tentar sair e entrar do Cacém. E começamos com uma zona em obras que nada têm a ver com o Polis, no Largo da República. Este local que já foi "morada" de um mercado, interior e exterior (o exterior era daqueles que agora recebem umas visitas "amigáveis" da ASAE), de várias Feiras do Cacém (era em Maio, certo?) com direito a carrinhos de choque e farturas e algodão-doce, e até como estacionamento das viaturas dos Bombeiros Voluntários. De acordo com uma notícia de Janeiro deste ano (segundo o Google não há nada de mais recente sobre estas obras!), parece que vamos ter neste espaço "a feira semanal" (mais artigos de "marca", portanto) e "um espaço de estadia e lazer, com uma fonte, cafetaria com esplanada e árvores" (porque o que o Cacém precisa é de mais cafés, coisa que até havia antes neste espaço, se bem que com um ar de fugir a sete pés...). A ver vamos o que vai sair daqui...


Depois temos as obras junto à passagem de nível, agora fechada. Ainda não tinha experimentado a passagem pedonal sobre a linha do comboio antes de tirar estas fotografias. Fica-se, de facto, com uma visão melhor da quantidade de buracos que têm sido abertos por aqui. Esta zona abrangida pelo Polis será, de acordo com o site, a zona de um túnel de modo a ligar a Nova Baixa ao Núcleo Histórico de Agualva. Estes conceitos deixam-me um bocado de azia, mas há que ter esperança no futuro, especialmente no que toca ao Núcleo Histórico, onde quer que ele ande.


Não, a próxima foto não é de nenhum bombardeamento no Médio Oriente, mas quase que podia ser. É apenas o entulho decorrente de mais um prédio demolido que irá dar lugar a obras de renovação na estação de comboios de Agualva-Cacém, que passará a ser a Estação e Interface Rodoferroviário da mesma. Será que também vamos ter direito a uma passadeira andante ao estilo de Entre-Campos? Isso sim, é que era um sinal de progresso...

Esta é uma análise simplista, como é óbvio, uma vez que nem sequer tirei fotos às zonas mais importantes que estão sujeitas ao Polis. O meu único desejo é que as obras sejam feitas de modo correcto e, se for possível, dentro dos prazos, pois pior que uma cidade com prédios a perder de vista só mesmo uma cidade com prédios e crateras brutais a perder de vista. And the clock keeps ticking... (agora já vai 460 dias, 3 horas, 23 minutos, e 43 segundos... ooppss... 42 segundos...enfim, percebem, não é?)

O Estrangeiro

"Pois bem, morrerei. Mais cedo do que os outros, evidentemente. Mas todos sabem que a vida não vale a pena ser vivida. No fundo, não ignorava que morrer aos trinta ou aos setenta anos tanto faz, pois, em qualquer dos casos, outros homens e outras mulheres viverão, e isso durante milhares de anos. No fim de contas, isto era claro como a água. Hoje ou daqui a vinte anos, era à mesma eu quem morria."

segunda-feira, setembro 25, 2006

Trota-Mundos

Há experiências que nunca se esquecem, mais não seja porque ficamos com as amizades para nos recordarem todos esses momentos que passámos "juntos". Só assim se explica que alguém se lembre de mim quando vê alguns caracteres coreanos no pano de fundo de um país como o Suriname. Ter amigos é mesmo o sal da vida...

(Obrigado pela foto, PenaBranca, pela amizade e cá te espero quando deixares de percorrer o nosso planeta. Um abraço!)

Ondas Sonoras - XIX

... ou como os White Stripes teriam sido a banda-sonora perfeita para uma despedida de solteiro sábado à noite. Até o nome da música ("I Just Don't Know What To Do With Myself") ilustraria bem o desenrolar da noite...

sábado, setembro 23, 2006

Causas

A propósito de um texto interessante no Positrão, comecei a pensar no que teria acontecido às minhas próprias causas e cheguei a uma conclusão que não sei se será boa ou má, mas o facto é que, tomando como exemplo as causas que o texto personifica, constato que em quase todas sinto que me afastei delas, ou, de outro ponto de vista, elas afastaram-se de mim.

"A nossa cidade é a melhor." Bom, esta causa será um bocado para esquecer. Afinal de contas, se há coisa que inspira o nome deste blogue, será mesmo o local onde vivo. Sempre fui bastante crítico deste sítio, e ainda hoje não vejo razões para deixar de o ser. Se tenho boas recordações da minha cidade (apenas recentemente, quase sempre a conheci como vila)? É claro. Foi aqui que conheci a maior parte das minhas amizades, dos meus primeiros amores, das minhas vitórias, das minhas lágrimas, das minhas alegrias, das minhas brincadeiras, enfim, já são quase trinta anos (com um ano de intervalo pelo meio) a viver neste sítio. Mas não deixa de ser uma cidade cinzenta, logo uma causa não muito defendida.

"O nosso clube é que deve ganhar." Na verdade, e apesar de ainda me entusiasmar com os jogos europeus do meu clube, a verdade é que o futebol faz cada vez menos parte das minhas preferências. Poderá ter a ver com a realidade de que é cada vez mais raro eu assistir a jogos ao vivo. Isso e as (pobres) exibições do meu clube, especialmente no que a nível interno diz respeito. E depois, acho que é um espectáculo que cá não consegue ser espectáculo, ou seja, é caro e acaba por ser intediante, excepto provavelmente para os indefectíveis. Como constato que não o sou, dedico cada vez menos tempo ao meu clube e, basicamente, deixo-o andar.

"A nossa forma de ver é que está certa." Apesar de ser um enorme teimoso, não gosto de impôr as minhas ideias a ninguém, mesmo quando do outro lado vejo igual teimosia em defender posições com as quais não concordo. Serão os efeitos secundários de viver, ou pelo menos tentar viver, em democracia. Convém é não escalar das palavras para os actos menos correctos.

"O nosso partido tem as respostas mais adequadas." Lembro-me que o primeiro acto eleitoral em que participei teve em mim um impacto enorme. Sentia que pela primeira vez iria participar no destino do meu país, dos meus compatriotas, enfim, que podia num simples acto melhorar em muito a minha vida e a dos que me rodeiam. Ilusões? Talvez, mas naquela altura faziam todo o sentido. Recordo-me também que nos primeiros anos de votos acabei por invariavelmente votar sempre no mesmo partido ou em pessoas apoiadas por ele. Influências maioritariamente familiares e amigas, e algumas ideias que me agradavam. Ideias que constituíam a base daquilo que achava que um Governo ou um Presidente ou mesmo uma Junta de Freguesia deveriam de ser: instituições públicas ao serviço de todos os seus constituintes. Com o tempo, no entanto, a ideia do meu partido dispersou-se. Comecei a optar por outros, dependendo da votação em causa. Pior, comecei a notar muitas (demasiadas) semelhanças entre o meu partido e a oposição. Afinal de contas, parecia que ambos advogavam as mesmas ideias e princípios, que em muitos casos nada contribuíam para o evoluir do nosso país. Esquerda e direita passaram a ser mais chavões que outra coisa qualquer. Não deixo de votar, hoje em dia, mas normalmente já não é um voto a pensar no meu partido, esse, tem que se esforçar por me convencer que merece mesmo o meu voto.

"A nossa religião é definitivamente a verdadeira."
Sim, fui o típico rapaz que foi endoutrinado na religião que os seus pais e quase toda a família perfilhava. Sim, passei grande secas em celebrações que muito pouco me diziam. Mas, contra todas as possibilidades, lá pelo meio houve qualquer coisa que me fez acreditar em algo. E foi esse acreditar inocente e verdadeiro (há quem lhe chame fé) que me moldou nos meus princípios mais íntimos e, em certa medida, criou a pessoa que sou no meu âmago. Lembro-me que nos primeiros anos era bastante crítico da instituição que estava por trás da minha religião, talvez fosse a ideologia do meu partido que me colocava em xeque e fazia com que eu agisse dessa forma. Depois cheguei à conclusão que o que realmente importava era a crença e assim consegui conviver com a instituição. De há uns anos para cá que a instituição me tem desapontado a torto e a direito, pelo que lentamente me tenho vindo a afastar, vivendo a minha religião dentro de mim mesmo e com aqueles que me quiserem conhecer. Os fundamentalismos que a minha religião e outras conseguem invocar assusta-me e deixa-me ainda mais convicto que as instituições tendem a lançar o essencial da religião numa espiral de cerimoniais, textos inócuos e acusações mútuas que apenas fazem vir ao de cima o pior de cada uma das crenças que os homens até hoje criaram. Mais uma causa que vai perdendo terreno comigo, mas não o essencial da minha fé, esse mora cá e faz parte de mim.

Menciono apenas mais uma causa que não foi referida no texto do Vasco S., e segundo a mesma linha de escrita, seria algo do género "o meu país é o maior do mundo". Apenas digo que fiquei a compreender melhor o meu país depois de ter estado fora dele. Se calhar é o que todos nós precisávamos, independentemente do destino para o qual fossêmos, devíamos trabalhar, viver, sobreviver, comer, beber, amar, enfim, devíamos transpôr todo o nosso viver para um sítio fora daqui, e, é só a minha opinião e a minha experiência, veríamos o nosso país como uma causa que, sim, provoca-nos imensas dores de cabeça e angústias diárias, mas, que, bolas, é o sítio onde nasci e onde estão as minhas raízes, para o bem e para o mal.

sexta-feira, setembro 22, 2006

Nações Unidas? Onde?

Porque exaspero ao ler notícias como esta, que apenas mostram que somos uma espécie verdadeiramente odiosa, e porque hoje recebi um beijo de alguém que muito gosto e que me animou o espírito, lembrei-me desta foto que está quase a fazer três anos, mas continua a ser tão relevante como na altura. Senhores Bush, Musharraf, Ahmadinejad, Olmert, Chávez, Kim Jong-Il, Hassan Nasrallah, Osamas e Talibãs, guerrilheiros do Darfur e outros mercenários, ide fornicar e deixem o resto da humanidade viver sossegada.


(Barcelona, Outubro de 2003)

quinta-feira, setembro 21, 2006

Modo off


(Porque por vezes sinto-me desligado de toda e qualquer réstia de contacto com o mundo que me faz respirar e viver como o que queria. Porque o tempo é quase exclusivamente dedicado ao lado profissional ou, se preferirem, o mundo que alguns querem que seja real e nada mais que esse lado exista. Porque sinto que não há livros, não há música, não há amigos, não há sol, não há ondas, não há nuvens, não há paixão, tudo me foi retirado e as engrenagens absorveram-me no seu movimento perpétuo e repetitivo. Porque a alma reclama por distúrbios emocionais mas o corpo apenas anseia pelo descanso e pelo sono reconfortador. Porque as horas passam à velocidade de segundos, os dias rapidamente se convertem em noites e, olhando para trás, nada me deixou saudades e sei que amanhã tudo recomeça. Porque a ânsia de passar as portas do sol para lá da rotina cresce a cada vinte e quatro horas que se sucedem. Porque sei que nesse momento vou estar longe, bem longe das correntes que neste momento me apertam, e que me fazem pensar que algo na minha vida está fora de controlo.)


The lights that move sideways and up and down
The beat takes you over and spins you round
Our hearts steady-beating, the sweat turns to cold
We're slaves to the DJ and out of control

terça-feira, setembro 19, 2006

Perdido no tempo - III

Ainda a propósito do texto anterior, andei às voltas pelas gavetas cá de casa, em busca dos vinis perdidos. E entre outras "pérolas" que por aqui desencantei, dei de caras com isto. Uma vez que o homem anda outra vez na berra (vá-se lá perceber o fenómeno das modas...), pode ser que assim garanta mais umas quantas visitas aqui pelo Espaço. É claro que não resisti a ouvir esta música intemporal... E sim, é claro que acompanhei aquele famoso assobio do início... ;) DE BANANA!!!



(Sugiro que cliquem na imagem de baixo e vejam a bonita mensagem que está a seguir à ficha técnica. Tantos anos depois e a cultura continua tão cara como dantes. Este single, salvo erro, foi-me dado por alguém, não sei porque razão, se calhar estavam a tentar livrar-se dele ;)

Ondas Sonoras - XVIII (e algo mais)

A Quadrilha não está propriamente dentro das minhas audições regulares, apesar de gostar de música tradicional portuguesa e música celta (as principais influências deste grupo). Mas assim que li a notícia, tenho que admitir que a minha memória recuou no tempo até meados de 1987. Foi nessa altura que recebi da mãe do Sebastião (Sebastião Antunes é o vocalista e compositor da Quadrilha) um single de vinil com quatro músicas de quatro bandas diferentes. Uma delas acabaria por ser a primeira banda do Sebastião, os Peace Makers, onde ele começava a mostrar um pouco do que seria a temática que rondaria as suas composições até hoje. A música chamava-se Hiroshima. Lembro-me do Sebastião desde a minha infância. Morávamos na mesma rua, à distância de duas portas. A mãe dele conheceu-me praticamente desde que nasci. O Sebastião foi a primeira pessoa invisual (quase a 100%) que alguma vez conheci. Fazia-me muita confusão, na minha mente ainda precoce. Porque andava aquele rapaz sempre com óculos meio estranhos, quase escuros? E aquele andar esquisito, de quem não sabe que terreno pisa? E, no entanto, nunca me lembro de alguma vez ter visto o Sebastião com aquela bengala, a dar toques no chão. Penso, não tenho a certeza, que o Sebastião não nasceu invisual e que, por isso, havia percursos que conhecia literalmente de olhos fechados. Mas, pensando agora com mais uns quantos anos em cima, o que será que passava pela sua mente, sabendo que nunca mais podia ver o mundo que, em parte, conhecia? Nunca mais poder ver um pôr-do-sol, nunca mais poder ver o mar, nunca mais poder ver as caras daqueles que amamos, nunca poder ver as nuvens a passarem por cima de nós... Se calhar, por causa disso, e apesar da nossa tenra idade, nunca nos passou pela cabeça, de mim e dos meus amigos daquela rua, gozar ou fazer pouco do Sebastião. Gozávamos com o dono da mercearia da esquina, que gaguejava a torto e a direito. Gozávamos com a vizinha de idade que andava sempre aos berros para não jogarmos à bola tão perto dos carros. Mas com o Sebastião, não. Porquê fazer isso? Víamo-lo a chegar e gritávamos a saudá-lo e ele acenava e sorria, um sorriso tão sincero que parecia por um instante que nos conseguia ver, a jogar e a brincar. Lembro-me também de um concerto, no jardim da avenida, no tempo em que as famílias ainda passeavam no jardim até às tantas da noite, no Verão. Lembro-me que havia muitos ranchos populares à mistura, acho que algum fado, mas na verdade só me recordo bem que estávamos todos à espera que a Quadrilha subisse ao palco, para podermos cantar e saltar e dançar com as músicas do Sebastião. E que grande concerto foi esse. Gosto de pensar que a cegueira fez do Sebastião a pessoa simpática e calma que eu conheci. Que o facto de não conseguir ver, fez com que ele fosse capaz de escrever poemas e músicas que agradaram a tanta gente. Assim, só posso desejar boa sorte para o novo album e um abraço deste ex-vizinho para ti, Sebastião.

"Ai caramba
Aquilo é que havia de ser, caramba
Palavra de honra
Só me arrependia do que não fizesse"

quinta-feira, setembro 14, 2006

Arrogância

substantivo feminino




sentimento de orgulho que se exprime por atitudes de altivez e desprezo; sobranceria; presunção; insolência; audácia;

(Do lat. arrogantìa-, «id.»)


© Copyright 2003-2006, Porto Editora.

quarta-feira, setembro 13, 2006

Reflexo


Vejo-me ao espelho e sim, ainda estou lá. Mesmo com o mundo quebrado ou arrebentado, eu ainda apareço lá, no meio de todo o caos, a tentar perceber qual o espaço que me é destinado. Mesmo em semanas como esta, em que tudo se vislumbra desfocado e sem brilho, ainda vai havendo motivos para me levantar da cama todas as manhãs. O futuro devia ser assim, curar as feridas, olhar para os que partilham a vida connosco, juntar os bocados do puzzle, e seguir em frente, sempre em frente, parando ocasionalmente para confirmarmos o reflexo do nosso sorriso.

terça-feira, setembro 12, 2006

Nunca é tarde...

... para se ter mais um afilhado(a) que não quer saber de Nintendos ou Playstations mas sim de um caderno escolar onde possa aprender a escrever ou de uma vacina contra a epidemia de cólera que atravessa o seu país ou simplesmente um copo de água potável.

"Creio que não haverá muitas pessoas que não tenham visto, pelo menos uma vez na vida, a fotografia de uma criança africana com os olhos e o corpo marcados pela fome. Infelizmente, a realidade prolonga-se para além do impacto das imagens utilizadas frequentemente pelos nossos meios de comunicação social de forma ocasional e descontextualizada e deixadas cair no esquecimento, pouco depois.
Sabe-se que o índice de mortalidade infantil nos países africanos é sempre muito alto e no caso da Zâmbia esse valor situa-se nos 10%: isto é, calcula-se que entre 100 crianças que nascem, 10 não chegarão a atingir os 5 anos de vida. Os dados são fornecidos geralmente pelas clínicas do Ministério da Saúde, que possuem um registo das crianças nascidas nas instalações sanitárias locais e dos casos de mortalidade que se verificam, e podem ser ainda comprovados pela experiência quotidiana de quem se encontra a operar no território. (...)"

Para ti, Miguel, onde quer que te encontres.

(CCS Portugal - Centro para a Cooperação e Desenvolvimento)

segunda-feira, setembro 11, 2006

The bright side of Fundamentalism

"O brasileiro Paulo Coelho, o escritor mais vendido no Irão, acaba de ter sete livros seus proibidos no país."

(in Correio da Manhã)

Pronto, e eu a pensar que o Irão se mantinha no Eixo do Mal e saem-se com esta... E cá, não podemos fazer o mesmo? :)

Paz às suas almas

Quando estive o ano passado em Nova Iorque, havia um local que sabia que iria visitar e que não sabia como iria reagir. As imagens que tinha do Ground Zero depois do ataque de 11 de Setembro eram maioritariamente retiradas de muitas horas a rever reportagens em inúmeros canais de televisão noticiosos. Nunca me teria passado pela cabeça a verdadeira dimensão do espaço ocupado pelo WTC se não tivesse estado lá, mesmo ao lado do local onde, provavelmente, a história deste novo século começou a ser escrita da forma mais dramática possível. O sentimento que trago comigo desse local é a confirmação de como a irracionalidade do ser humano consegue ser tão absurda. De como somos capazes da mais pura destruição em nome de coisas que, no fundo, não significam rigorosamente nada quando se acaba com a vida de quase 3.000 pessoas e se deixam destroçados todos os familiares, amigos e entes queridos de todas essas almas. Ao relembrar as imagens dos ataques, não posso deixar de pensar que toda e qualquer morte deliberada de um ser humano é um perfeito desperdício, seja esse ser humano morto numa cidade norte-americana, libanesa, iraquiana ou israelita. E que, no fundo, não merecemos a consciência, a alma, os neurónios que a nossa espécie possui, pois mais facilmente os utilizamos para a morte ou para a destruição do que para resolver todos os problemas verdadeiramente importantes que grassam por esse planeta fora.

domingo, setembro 10, 2006

Quase cinco anos depois...

"Na rua, o cenário que as duas mulheres encontraram era inimaginável. "Fiquei em choque completo. Só me lembro de ver homens a chorar histericamente; pessoas cobertas de sangue, tudo a correr para todos os lados. Havia sirenes e polícias e bombeiros por todo o lado. Olhei para cima e vi as duas torres a arder. E pessoas a saltar, umas atrás das outras. Meu Deus, nunca vi nada mais horrível", diz Joyce."

(in Público)

sábado, setembro 09, 2006

Um copo para o caminho

Estávamos embriagados. Os copos manchados do vermelho ocre do vinho não nos deixavam mentir. As nossa faces também não deixavam muita margem para dúvidas. E, no entanto, as palavras que dizíamos um ao outro eram as mais verdadeiras que tínhamos dito desde que nos conhecíamos. Tinham sido 8 meses de embriaguez que agora terminavam, ironia das ironias, com uma garrafa quase vazia no chão e com os nossos corpos nus deitados no mesmo chão. Mas desta vez era diferente. Desta vez não eram os nossos lábios que se procuravam, nem os nossos corpos que ansiavam um pelo outro. Era a hora da despedida. A hora de confirmarmos um ao outro que as nossas vidas teriam de continuar em separado. O que nos unia não era amor mas sim a falta de algo. A falta daqueles que tínhamos deixado para trás para nos lançarmos numa experiência de vida diferente. A vida como a tínhamos conhecido nos últimos meses de carícias, beijos, paixão, comunhão e dependência estava prestes a mudar. Tínhamos de confessar um ao outro que não era amor. Que não chegava para partirmos lado a lado para um dos destinos que esperavam por nós. Eu estava de partida no dia seguinte, tu ainda ias ficar naquela cidade por mais uns meses. Não havia lágrimas mas uma certa tristeza imperava nas nossas palavras. Tínhamos sido amigos, amantes, irmãos, no centro de um turbilhão de emoções que se esgotava ali. Os nossos olhos não conseguiam cruzar-se, talvez tenha sido por isso que o vinho correu pelas nossas gargantas de forma ainda mais rápida. Tínhamos urgência em ficar ébrios, em ganhar a coragem que nos faltava, para nos confrontarmos com a realidade que nos esperava por trás do nascer do sol. Abraçamo-nos. Ficámos assim, abraçados no chão, esperando que o tempo parasse e ficássemos assim eternamente. As coisas estranhas que o vinho nos faz. Por entre as frestas da persiana, começou a entrar alguma luz. Tinha sido uma noite em claro. A tentar memorizar os detalhes do teu corpo, da tua boca, dos teus olhos. A beber ao máximo do suor que corria pelos nossos corpos. A fazer um esforço para não me esquecer do cheiro da tua pele branca e dos teus cabelos ruivos. Desejando que tivéssemos mais uma noite, que ao mesmo tempo saberia que nunca mais havia de vir. Ainda atravessas os meus pensamentos, de vez em quando. A eterna questão do "e se?". Mas depois rapidamente esqueço isso, pois sei que o que tivémos teve o seu tempo e o seu espaço, e há-de ficar sempre como uma memória há qual vai saber sempre bem voltar. Tal como o mesmo vinho que bebemos nessa noite, e do qual gosto de beber um copo de vez em quando.

I will never forget you, you know that, don't you?

terça-feira, setembro 05, 2006

Dez anos depois (Ondas Sonoras - XVII)







Não se trata só de música. Trata-se de uma banda sonora que já me acompanha há quinze anos. Trata-se de momentos que me marcaram e que tiveram algumas destas músicas como pano de fundo. Trata-se de um concerto há dez anos atrás que me deixou boas recordações e um daqueles infímos momentos de felicidade que vou ter na minha vida. Foi o mesmo momento que acabou por acontecer de novo ontem à noite. Ouvir os sons que percorreram metade da minha existência. Que para o bem ou para o mal, independentemente das coisas que ouço hoje em dia, e dos sons que foram mudando ao longo dos anos no meu "gira-discos", há-de ser sempre parte de mim. Que são a única banda que me poderia deixar quase à beira das lágrimas só por ouvir uma das suas músicas, apenas escondidas pelo suor que escorria pela minha cara. Que fazem com que "voe" de volta aos meus vinte anos e me deem força que no dia-a-dia ficam ocultadas pelo passar dos anos. E depois? Depois, fica a banda-sonora da minha vida.

Wasted Reprise, Life Wasted, Animal, Corduroy, Severed Hand, World Wide Suicide, Even Flow, I Am Mine, Gods' Dice, Given To Fly, Do The Evolution, Wishlist, Lukin, Not For You(Modern Girl), Comatose, Elderly Woman Behind The Counter In A Small Town, Jeremy, Why Go
Last Kiss, Inside Job, Black, Crazy Mary, Alive
Big Wave, Better Man, Leash, Baba O'Riley, Yellow Ledbetter


Como escrevi no início, não se trata só de música. Ou, como num sms que enviei ontem, hoje sou um gajo feliz.

domingo, setembro 03, 2006

Labirinto

"Curva e mais outra curva. Este lado não tem saída, ou seria daquele lado? Já não passámos por estas árvores? Mas quem é que se lembra de fazer um jardim assim? E ainda por cima com um calor destes... Não há paciência, será que as pessoas não podem ler, beijar-se ou deitar-se noutro lugar? Tenho de arranjar um jardim só para mim..."



sábado, setembro 02, 2006

Dedicado ao C3

... e pensar que isto já foi em 2001... e que aqui ainda estávamos todos bem, a culpa era mesmo do fotógrafo... e que Coimbra nunca mais foi a mesma para mim, ficando para sempre recordada como a cidade onde foram tiradas as infames "Fotos do lixo"... e que há pessoas nesta foto que já não vejo há mais de três anos... e que há aqui pessoas sem as quais já não consigo imaginar a minha vida... e chegar à conclusão que tudo passou demasiadamente rápido e só agora consigo ver o quanto já vivi... e pensar que não consigo deixar de sorrir ao olhar para isto... um sorriso muito, muito melancólico...

Círculos e círculos

O que é que faz nascer uma amizade? O que é que pode criar uma empatia entre duas pessoas ao ponto de decidirem confiar uma na outra coisas que não confiariam a mais ninguém? Se calhar tudo começa por as duas pessoas trabalharem juntas, ou porque alguém as apresentou, ou porque se conheceram num concerto. Serão vizinhos? Também pode acontecer, ou pelo menos, morarem na mesma cidade, vila ou aldeia. Também se pode dar o caso de terem uma experiência comum de tal modo intensa que a partir do momento em que se sentam a uma mesa do café, quase que instantaneamente se forma uma conversa com muitos pontos de contacto. Experiências tão diferentes mas que por o serem acabam por ter muitas semelhanças. Se dantes a geografia tinha um papel relevante nas raízes que uma eventual amizade podia formar (quase como amantes, também os amigos precisavam da proximidade física:-), hoje em dia os telemóveis, o e-mail , o messenger, os blogues e um sem-fim de outras artimanhas servem para nos mantermos a par do que se passa com a nossa amizade, se está bem ou não, se está com muito trabalho ou se as férias estão a correr bem. Deste modo, eu tenho uma visão positiva desta tecnologias ditas "desumanizantes". É o tipo de coisas que me permite ter amizades em Lisboa, no Porto, no Algarve, em Seul, em Luanda, em Toronto, e em outros sítios tão estranhos como estes. Mas, e escrever? Confesso que a última vez que escrevi, via postal tipo CTT, foi no último Natal. Decidi enviar postais escritos a quase todos os meus familiares e esquecer ou pôr de lado os telefonemas (pelo menos só liguei para saber as moradas:-). E isto apenas aconteceu porque entretanto, com esta coisa do blogue e tal, voltei a pegar em cadernos iniciados e nunca acabados, voltei ao vício de escrever em guardanapos de papel e enfiá-los em quase todos os bolsos das calças de ganga, e a deixar papeis espalhados pela casa toda, às vezes apenas com meias frases, à espera de melhores dias de inspiração. Mas isto tudo para chegar ao ponto da escrita com amizade. Dois prazeres que a partir de Agosto de 2006 ficam unidos com alguém que, apesar de ser uma amizade recente, me conseguiu surpreender e deixar ficar quase sem palavras, à parte destas.

Sabes de uma coisa? Gosto de ti e espero que a nossa amizade seja daquelas que vai durar até termos muitos cabelos brancos, trezentas e quarenta dioptrias e não sei quantas dores lombares. Porque de certeza absoluta que nessa altura iremos olhar para estas palavras que agora começamos a escrever e nos lembraremos de todos os pormenores, dos cafés, dos domingos matinais sempre com Sol, das viagens por todo o lado, dos encontros e desencontros, e de tudo aquilo que acabou por fazer com que nos cruzássemos nesta vida. Volto a dizer, gosto de ti, minha querida amiga.


Mais uma volta...

..., mais uma rotunda, desta vez directamente do núcleo cinzento por excelência. Mais uma vez, os meus agradecimentos aos Dolos Eventuais, que acharam haver algum remoto interesse na foto da rotunda que lhes enviei. Esperemos que depois deste enorme passo, sejam ainda mais googlizados pelos meus humildes concidadãos, na busca de fotos que lhes recordem o verdadeiro espaço cinzento onde moram. Ou, como dizia o outro, a minha terra é linda!!!